terça-feira, 15 de maio de 2012

              “Analisando de um mundo paralelo”

    No dia 20 de dezembro de 1986, senti algo diferente ao acordar. Talvez fosse só o vento que entrava pela janela e que passava sobre meus cabelos ou que sabe o “ar” nem fosse tão bom assim. Mal eu sabia que naquela sexta- feira meu modo de ver o mundo iria mudar completamente.  
   Vocês devem estar se perguntando o que teria acontecido de tão importante?
Pois bem, depois de ter me “trancado” dentro de casa por três semanas, naquele dia nublado tive coragem, nem sei se essa é a palavra certa para usar, acho que nesse caso eu tinha aberto meus olhos, saído do buraco negro.
   A noite estava linda, todos estavam rodeados de amigos na frente do bar, inclusive eu. Quando entrei, a primeira coisa em que reparei foi um homem, um guri,  que estava sentado em uma mesa nos fundos, o mesmo estava só. 
   Logo passou pela minha cabeça  “ Por que aquele homem barbudo, bonito, estava sozinho?”
Comecei a analisar seu jeito, seus gestos. Rapidamente me  dei conta, que suas mãos estavam inquietas, suas pernas também, o modo como ele olhava de um lado para outro demonstrava um certo tipo de nervosismo, talvez, quem sabe uma timidez.  Estava pensando demais, afinal nem conhecia o “nerdzinho”, mas mesmo assim não conseguia de parar de observa-lo.
   Depois de algumas horas, o rapaz continuava sozinho, pedia uma, duas cervejas, mas sempre só.  Naquele exato instante me dei conta que havia ficado presa por 3 semanas, por alguns medos tolos, toda aquela minha insegurança era inútil ao ver aquele rapaz, mesmo estando sem ninguém ao seu lado, ele estava lá vivendo sua vida, sem a ajuda de absolutamente ninguém.  
   Tive vontade de compartilhar o que havia observado naquele rapaz com meus amigos, juntos  chegamos a conclusão de que às vezes nos preocupamos com coisas tão ridículas, que nem nos damos conta, deixamos de fazer coisas pelo simples fato de não termos ninguém ao nosso lado, com medo das criticas alheias.  Um simples fato visto com outros olhos naquela noite mudou opinião e a dos que estavam comigo.

      “O coração tem razões que a própria razão desconhece”

       Lembro-me daquele momento como estivesse acontecendo nesse exato instante, a chuva estava trazendo um vento forte que para mim representava a sensação de abandono, a mesma dominava minha mente e deixava as paredes do meu quarto manchadas de dor e solidão, havia mil lagrimas caindo em meu rosto, ao ver aquele porta retrato antigo em cima da minha cômoda, meu coração parecia se quebrar, pois eu sabia que nunca mais olharia para aqueles olhos da cor do mar.
       A luz do poste da rua estava entrando pela fresta quebrada de janela, o cansaço estava tomando conta de mim, foi quando minhas pálpebras começaram a se fechar lentamente até que fecharam por completo.
      No dia seguinte, quando acordei, não conseguia acreditar que aquilo realmente tivesse acontecido. Pelo menos não comigo.  Na minha cabeça, aquela seria uma manhã normal, era tão difícil aceitar a perda da pessoa que mais amava, aconteceu tudo tão de repente, não consegui nem me despedir. 
    Todos esses pensamentos estavam me deixando louca, era como se as páginas em branco estivessem escrevendo os vasos vazios e que naquele momento estavam atuando como personagem principal naquela historia em que meu choro não era escutado nem compreendido por alguém.
    Levantei-me, do chão, com o pouco de forças que tinham restado, fui caminhando até o banheiro, lavei meu rosto com água gelada para tentar ficar um pouco lúcida, acordar.  Naquele instante, vi uma lâmina em cima do vaso sanitário, sem pensar duas vezes, peguei-a, pensando na voz do meu amado fui me cortando lentamente, o mais estranho é que sentia prazer em ver o sangue pintando no chão, era como se minha dor interna fosse tão grande que naquele momento aquilo me aliviava. Depois de “afundar” meus pulsos em nostalgia, fechei meus olhos e me senti com Pedro, desse jeito para todo o sempre...